"1. A URAP expressa a sua preocupação pelas insistentes actividades de grupos e forças que se afirmam de cariz fascista, com expressão estranha ao regime democrático português, garantido pela Constituição da República.
2. A URAP considera que essa propaganda, com elogios ao III Reich e exibição da sua simbologia, da cruz suástica e da saudação nazi, se insere directamente no ideário que ficou designado na história política da Europa do último século como nazi-fascismo e que se concretizou nas mais cruéis atrocidades cometidas no nosso continente a partir do poder de Estado.
3. No entender da URAP não se trata apenas de saudosismo ideológico.
A URAP considera que os agrupamentos neo-nazis a ressurgir em Portugal têm aqui algo de sedimentar, depois de 48 anos de fascismo. Mas nunca poderiam implantar-se com força sem apoio externo.
Ainda no passado dia 21 de Abril estava anunciada para Lisboa uma conferência com participação de várias organizações europeias que perfilham a mesma ideologia e anunciavam o desenvolvimento do,«seu activismo na Europa».
A escolha de Lisboa significa, certamente, que a consideram terreno propício para tal tipo de actividades.
4. A operação que a polícia judiciária levou a cabo antes de 21 de Abril comprovou que os neonazis, alguns dos quais com antecedentes criminais de violência e agressões, não coleccionavam só símbolos, mas também armas.
5. A reunião internacional de 21 de Abril era patrocinada por um partido formalmente legal, reconhecido pelo Tribunal Constitucional, o Partido Nacional Renovador, que desperta a dúvida pertinente de ser um partido verdadeiro e próprio ou uma fraude à lei.
Não tendo obtido as assinaturas suficientes para a sua formação como partido político, fez um negócio político com um partido já legalmente constituído, o PRD (Partido Renovador Democrático), então crivado de dívidas, que aceitou que estas fossem pagas por alguns indivíduos que nele se inscreveram e que ao cabo de algum tempo, mudaram o programa, os estatutos e os órgãos directivos do PRD, criando o PNR.
A criação de um partido por cidadãos que não tendo a possibilidade de o fazer, por falta do número mínimo de assinaturas requeridas por lei, recorrem aos escombros de um partido já existente legalmente, aproveitando a sua estrutura legal, pode considerar-se um negócio ilícito e fraudulento.
6. O Ministério da Administração Interna tem menorizado os indícios visíveis (e até de ostentação) quer deste partido, quer de organizações a ele directa ou indirectamente ligadas.
É certo que essas organizações procuram, através da mediatização, ganhar um protagonismo que não corresponde à sua marginalidade política.
Na URAP consideramos que é fundamentalmente no plano político, ideológico e cultural que devem ser combatidas as tentativas de reabilitação e desenvolvimento das ideologias, organizações e actividades de cariz nazi e fascista.
Mas seria perigoso se as autoridades menosprezassem o perigo que pode decorrer de iniciativas de carácter racista e fascista no nosso país.
7. O tempo que estamos a atravessar, os baixos salários, o desemprego, a precaridade, levam ao descontentamento e ao desânimo de largas camadas da população e são terreno fértil para a propaganda de soluções de força, xenófobas, racistas, antidemocráticas.
8. A URAP apela a que todos os antifascistas participem numa grande campanha contra as tentativas de branqueamento e reabilitação da ditadura fascista, dos seus protagonistas, da sua política.
Chamamos também a atenção das autoridades portuguesas para o seu dever de defesa da legalidade democrática.
Combatemos muito tempo por ela.
Custou cara a muita gente.
Estão em causa valores tão fundamentais como a liberdade, a igualdade, a justiça.
Não basta serem proclamados pela lei.
É necessário continuarmos a defendê-los, dia a dia.
A URAP continuará presente na luta contra o fascismo, pelos direitos do ser humano, pela democracia."