Suponho que deva ser negativamente crítico... porque me parecerá então que "inamovíveis declarações de princípios" é um elogio?
Com a publicação do último relatório da Entidade Reguladora da Comunicação Social, lá vieram os araútos do costume (tentar) desmentir o indesmentível.
Com base no quadro anterior, vem um dizer que os números não mentem, e que bem se verá que o Bloco de Esquerda não é nada, nada, nada beneficiado pela comunicação social, "a verdade dos números" mostra que no que toca a notícias o BE "tem três vezes menos que o PCP", retorquindo o outro que "a famosa conversa sobre o Bloco ser levado ao colo pelos jornalistas não tem nada a ver com a realidade".
Claro que os números, despidos de qualquer contextualização, mostram realmente isso mesmo. Não deixa de ser interessante que alguns que até chamariam a atenção de que os números não podem ser lidos desligados de uma análise mais vasta da realidade, agora não vejam necessidade de o fazer.
A questão não se limita ao simples número de notícias, embora até aqui se pudesses referir algumas questões, como as referidas aqui e aqui, entre outras. Muito menos se prende com as votações, como referido num dos acima citados, porque notícias não são tempos de antena.
Os tempos de antena são em função de votações. As notícias, no entanto, são em termos de actividade política. Duvido que não saiba...
E em termos de actividade política, só mesmo a brincar é que se poderá insinuar que a do BE se aproxima do PCP.
Embora, provavelmente, seriam capazes de o dizer sem grande dificuldade. É aí que entra a questão da seriedade e honestidade de uns, e a falta das mesmas noutros...
Está finalmente confirmado. Entre Julho de 2005 e Dezembro de 2007, nada mais nada menos que 56 voos da CIA, com prisioneiros ilegais, para a base de Guantanámo, passaram por Portugal.
Sim, leram bem, Dezembro de 2007, portanto já com diversas investigações em curso. Nada que, no entanto, envergonhe o actual e anterior Governo.
E quem dá, finalmente, a informação? O Governo português, em resposta a um requerimento apresentado pelo PCP, na Assembleia da República.
Como não nos conformamos com a mentira descarada, insistimos na exigência da verdade, e continuaremos, até que seja desvendada todo o colaboracionismo do PS, PSD e CDS-PP com as inomináveis violações dos mais elementares direitos humanos, por parte da agência de espionagem do imperialismo norte-americano.
O Governo afirma que nada sabia, nem podia, porque não controlou os voos. Portanto, aviões militares, ao serviço de um país suspeito de os utilizar na transferência ilegal de presos também ilegais, caso em investigação há já algum tempo, passam pelo espaço aéreo português, sem qualquer controlo.
Será normal? Como disse o deputado do PCP, Jorge Machado, "Se o Governo não os fiscalizou foi porque não quis (...) deviam ter sido feitas inspecções, até porque havia fortes indícios de que transportavam prisioneiros para Guantánamo (...) Portugal continua a ser conivente, por acção ou omissão, não obstante a denúncia pública e o escândalo".
Visto Guantánamo e o Governo, qual o porquê da comunicação social no título? Pela omissão, uma vez mais, do trabalho político do PCP.
As primeiras notícias surgidas dão conta do papel do PCP, no desvendar das informações agora reveladas. No entanto, se se derem ao trabalho de ver as notícias mais recentes, já quase não é referido, sendo gradualmente substituído pelo Bloco de Esquerda e pela euro-deputada socialista Ana Gomes.
Pior, sobre esta matéria, no noticiário das 13h, a SIC entrevista Fernando Rosas, deputado do BE, e um deputado do PS. No das 20h, entrevista somente Ana Gomes. Sobre o PCP, cujo requerimento permitiu obter estas informações, nada de nada.
Faz-me lembrar uma conversa há algum tempo, com uma pessoa que argumentava que o facto do trabalho do PCP não ser noticiado, e o do BE o ser de modo inversamente proporcional, se deveria à falta de contactos deste junto de jornalistas, ou falta de bons comunicadores...
Pois claro. O PCP apresenta um requerimento, em função do qual são reveladas um conjunto de informações. Face a isto, a televisão entrevista um deputado bloquista e dois socialistas.
Falta de contactos e comunicadores, ou uma comunicação social prestimosamente dedicada ao seu papel de classe? E não me venham falar que apareceu nos jornais e "só" não apareceu na televisão, porque a abrangência de públicos de cada meio é absolutamente incomparável; e, de qualquer modo, como referi, também da imprensa já está em vias de extinção.
Portanto, nada mais nada menos, que novo exemplo do papel de classe da comunicação social, face ao qual não pode deixar de omitir o PCP e enaltecer as supostas alternativas de esquerda... Aquelas que, como já referido, nada podem alterar.
PS: A quem se interessar pela temática da comunicação social, e o seu papel de classe na sociedade capitalista, sugiro a obra "Jornalismo e Sociedade", de Fernando Correia, publicada pelas Edições Avante.
O que tem afinal o radicalismo pequeno-burguês a ver com a busca mediática? Que diabo faz o Serviço Nacional de Saúde misturado com o Tratado Constitucional Europeu, mais à praxe ao barulho? Que ligações entre tantos assuntos (aparentemente) desconexos?
Na verdade, parecendo um serrabulho político, até é bastante simples.
A quem quiser dar uma vista de olhos num par de obras, a saber "Radicalismo Pequeno-Burguês de Fachada Socialista" de Cunhal, e "Esquerdismo, a Doença Infantil do Comunismo", ficará a perceber o que é, essencialmente, um Partido de ideologia e prática esquerdista. Daí, perceberá o primeiro título: o radicalismo inconsequente e tantas vezes contra-producente, de um partido de bases recrutadas de entre a pequena-burguesia, e que precisamente pela fusão destes dois aspectos, assume um discurso socialista, essencialmente de fachada.
Bom, no panorama político-partidário deste rectângulo à beira mar plantado, a que (espécie de) partido se pode aplicar esta conceptualização?
Não será ao PS, que cada vez mais se assume crescentemente à direita, e de radicalismo tem muito pouco, embora lhe sobre a demagogia e a hipócrisia. Também não será do PSD, pura e simplesmente de direita (o Menezes diz que não, mas o Menezes é um idiota) e não radical. No CDS-PP também não encaixa, já que se por vezes radical, é-o à direita assumidamente. Note-se que qualquer um destes, tanto quanto pequena-burguesia, e talvez mais, têm na burguesia a sua força-motriz (não confundir com eleitorado).
Também não se aplica ao PCP, nomeadamente porque é nas classes trabalhadoras que tem a sua essência de militância e, também neste caso, de eleitorado, e precisamente por isso não tem na sua ideologia e acção lugar para o radicalismo.
O que sobra, o que sobra? Pois, o Bloco de Esquerda. A versão lusitana da caldeirada partidária, só que mal misturada. Onde, se não aqui, encontramos um partido claramente constituído e apoiado pela pequena-burguesia? Onde, se não aqui, encontramos o radicalismo como forma de agir e, efectivamente, de identificação? É então nesse aglomerado mal cimentado que encontramos, na sua essência, o radicalismo pequeno-burguês de fachada socialista, padecendo profundamente dessa doença infantil do comunismo, o esquerdismo.
Ora, o Bloco de Esquerda tem uma particularidade interessantíssima. Além de tudo acima referido, o Bloco não é um partido de origem, mas a fusão de partidos pré-existentes, a saber o PSR, a UDP e a Política XXI.
Assim, ao contrário de uma feijoada, onde todos os componentes se misturam harmoniosamente, o Bloco é como um cozido à portuguesa, onde tudo vem aparentemente misturado na travessa, enquanto afinal, todos os ingredientes se mantêm em separado, ainda que possam transmitir um pouco de gostinho aos outros.
Como se prevê, embora raramente assumido e menos ainda divulgado (se fosse com o PCP, era o aqui-del-rei com o massacre duns tais renovadores às mãos de uns tais ortodoxos), sob uma capa de harmoniosas e democráticas relações inter e intra facções, não só se passa metade do tempo às turras, como raramente é possível alcançar consensos face a questões centrais para a sociedade portuguesa.
Daqui se retiram cinco breves conclusões.
Primeiro, esse tão democrático aglomerado, profundamente igualitário, mais uma vez democrático, decidiu, porventura para ver se finalmente consegue mais facilmente gerar consensos nas questões determinantes, calar as suas próprias minorias ao conceder-lhes tempo de intervenção limitado à sua dimensão enquanto facção. O partido das democráticas e harmoniosas facções, esmaga assim as suas próprias facções.
Segundo, enquanto o primeiro não ocorre, inevitavelmente, por ausência de coerência programática, política e discursiva, tal partido não tem, por si só, capacidade de atracção eleitoral e de recrutamente de militantes, além dos desiludidos do PS e incapazes de lidar com o centralismo democrático que enquadra a organização do PCP. Talvez por isso, ao que tenho ouvido, ainda que não confirmado, ainda não tenha passado a barreira dos 5000 militantes: quiçá o salve o ortodoxo e estalinista PCP, com a convocação da Marcha pela Liberdade e Democracia.
Terceiro, como não tem, como disse por si só, ou seja, pelo seu programa e acção, capacidade de atracção de militantes e de eleitores, sendo que a falta de militantes se reflecte igualmente na incapacidade organizativa de ter actividade consistente e quotidiana junto do povo eleitor, o Bloco de Esquerda precisa, não pode efectivamente abdicar, do mediatismo para se suster e crescer.
Quarto, é precisamente pelo mediatismo que cresce, considerando-se que a sua actividade política se resume, na novidade, a questões mediáticas e secundárias, na imitação, às propostas efectivamente estruturantes para a sociedade portuguesa que copia do PCP, agora mediatizadas, embora na origem não o houvessem sido.
Quinto, por tudo o referido, o Bloco e o PCP encontram-se em pólos opostos da esfera mediática. De facto, é exactamente pela sua incoerência prográmatica, radicalismo inconsequente e desorganização interna, por contraposição ao programa aprofundadamente definido do PCP, inequivocamente manifestado na sua acção consequente, em torno do seu projecto para a sociedade portuguesa, e alicerçada numa organização sem igual no panorama político-partidário português, que o Bloco é a diva da comunicação social e o PCP a sua ovelha negra tosquiada.
Ao último importa silenciar, pelo seu programa e organização, e inequívocas alterações que o aumento do seu poder traria à sociedade portuguesa; ao primeiro importa potenciar, precisamente porque nunca transformará nada.
Posto isto, de onde vem então o Serviço Nacional de Saúde, o Tratado e a Praxe?
Precisamente exemplos com os quais pretendo demonstrar tudo o acima explicitado, nomeadamente a dualidade entre questões essenciais e acessórios e as diferentes mediatizações.
Se há (há varias, claro está) uma questão essencial para a sociedade portuguesa, essa questão é a saúde. Portanto, o passado, presente e futuro do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Qualquer pessoa (os neo-liberais não são bem pessoas) compreende que o SNS está, desde há vários Governos e particularmente no anterior e no actual, a ser desmantelado. Daí, é obviamente fundamental combater as políticas do centrão PS/PSD para este importante sector.
Até aqui tudo muito lógico. Também será lógico que o Bloco de Esquerda se queira envolver nesta importante luta. O que já não é tão lógico, é que a única forma que encontra para o fazer, seja copiando as posições e iniciativas políticas do PCP, efectivamente confirmando as hipóteses que anteriormente afirmei.
O Bloco decidiu lançar uma campanha nacional pelo SNS, nomeadamente por meio da distribuição de um documento informativo e de um abaixo-assinado.
Acho a ideia muito boa, nem podia deixar de achar, uma vez que não passa de cópia de uma mesma campanha lançada pelo PCP há já cerca de ano e meio, tendo o PCP entregue na Assembleia da República mais de 100,000 assinaturas em defesa do SNS, campanha esta iniciada em Outubro de 2006 e finda em Maio de 2007.
Ora, esta campanha do Bloco conta com a já habitual cobertura mediática, tendo sido noticiada em diversos órgãos de comunicação social. Acho muito bem que o seja, não acho bem (embora, a luz de tudo o que antes referi, compreenda perfeitamente) é que a mesma campanha, nessa altura original, então vinda do PCP, não tinha tido nenhuma desta atenção.
Dir-me-ão, como de resto já me tentaram dizer, que esta campanha agora é mais mediatizada porque conta com o apoio de notáveis como Manuel Alegre (que é contra a política do Governo para o sector, mas vota-a favoravelmente no parlamento), João Semedo (deputado bloquista), António Arnaut (uma das mentes do SNS e do PS), bastonários disto e daquilo.
Dir-me-ão, mas dir-me-ão mal. Porque então será caso para questionar, porque motivo estiveram estes notáveis ano e meio à espera da campanha do Bloco, quando podiam ter apoiado a do PCP, antecipando desse modo políticas de saúde que já foram avançando desde então. Não o fazendo, contribuiram por inércia para aquilo que agora criticam.
Ainda para mais, tal até poderia ser compreensível, se fossem agora apresentadas propostas inovadoras, que não o haviam sido por parte do PCP. Seria compreensível, mas não é, já que o apresentado no documento agora lançado, nada tem de novo relativamente à Resolução do Encontro Nacional do PCP para a Saúde. Até posso eventualmente estar enganado, mas não encontrei na página do Bloco nada mais aprofundado, até porque as Teses aprovadas na sua última convenção só falam de guerra e globalização (provavelmente a única questão a que chegam a consenso).
Dir-me-ão então que na altura não foi possível apoiar a do PCP, porque é um partido sectário, não se junta a ninguém, e nunca abdicaria da sua própria afirmação, em prol de um movimento independente pela saúde.
Dir-me-ão, mas dir-me-ão mal. Porque então será caso para questionar, que independência tem esta iniciativa, se é afirmada, promovida e executada pelo Bloco, como tal noticiada na comunicação social, referindo o apoio dos ditos notáveis mas nunca afirmando a criação de qualquer movimento de unidade, sendo de resto o documento distribuído, oficialmente do Bloco.
Portanto, se esta é uma iniciativa partidária do Bloco, como a anterior foi uma iniciativa partidária do PCP, importa indagar porque motivo se juntam tantos notáveis a esta, não o tendo feito quanto à outra. Importa indagar, então, quem são afinal os sectários. E também porque motivo é esta tão noticiada esta iniciativa, em oposição à do PCP: a isto já não respondo, parece-me que quem tiver lido atentamente até aqui já saberá a resposta.
Finalmente, e para terminar com um quase-humor, e analisadas a questão mediática, a polarização da cobertura noticiosa entre Bloco e PCP, e a forma como o primeiro copia o segundo nas questões essenciais, resta ver afinal o que traz o BLoco de novo.
Muito recentemente, na Assembleia da República, seguidamente à aprovação definitiva do Tratado Reformador (leia-se constitucional) da União Europeia pelos Governos europeus, tanto o PCP como o Bloco interviram na Assembleia.
Naturalmente, o PCP não podia deixar de interpelar o Governo quanto à questão, nomeadamente quanto à forma como o documento seria ractificado em Portugal.
O Bloco, por sua vez, mostrou aquilo que realmente traz de novo. Interviu sobre a praxe académica! Tema que, como qualquer anta sabe, é absolutamente determinante para o desenvolvimento do país. Terá sido tão surreal que até João Semedo, ex-comunista e actual deputado do Bloco, interviu em nome pessoal para congratular o PCP por levantar os temas realmente importantes (alguma coisinha, pelos vistos, ainda não esqueceu). É assim a esquerda de confiança...
PS: Lamento, mas quanto a esta última questão, não tenho links para fontes. Não tendo motivos para desconfiar, quem quiser que vá ver as gravações do Canal do parlamento.
PPS: Naturalmente, assinei a petição. Por um lado, porque as questões se mantêm actuais, por outro porque não sou sectário, ao contrário de outros que por aí andam...