Como se dá a mudança na vida de um indivíduo? Como reage o indivíduo à mudança que vive, voluntariamente ou em virtude de factores externos? Parece-me que tal depende antes de mais da forma de ser/estar de cada um, no entanto o fundamental para começar é: de que mudança estamos mesmo a falar?
Isto porque será diferente a mudança de determinado aspecto da vida de um indivíduo, da mudança de vários aspectos, mas sobretudo da mudança no próprio indivíduo. Por enquanto, tomar-se-á como semelhante a reacção de um indivíduo a uma mudança por si próprio impulsionada, e a reacção a uma mudança que o indivíduo é levado a viver ainda que contra a sua vontade.
Tratando-se da mudança em dado aspecto da vida, por importante ou central que seja, penso que o indivíduo reagirá de acordo com as características fundamentais da sua maneira de ser. Admitindo, claro, que nada é tão linear e que as personalidades aqui explanadas são extremos, sendo portanto que na realidade ambas se encontram na generalidade dos indivíduos, uma e outra com determinado peso.
Desta forma a pessoa espontânea e emotiva, que age impulsivamente, tenderá à mudança rápida, carregada de emoção e imediatismo, rumo ao que no imediato considera ser o melhor para si. Ainda que por vezes seja atravessada por momentos de dúvida acerca das suas escolhas, a sua impulsividade leva-a a descartar as dúvidas e seguir em frente. E como segue em frente, poucas vezes pára para se questionar, as dúvidas são cada vez menos frequentes: a mudança dá-se rapidamente e o indivíduo adapta-se ao novo contexto.
Por outro lado, a pessoa racional e contida, que tudo planeia, tenderá a uma mudança lenta e esquematizada, muito bem pensada para que a mudança decorra exactamente da forma que pretende, rumo ao que pretende. Ao contrário da anterior, devido às permanentes interrogações que faz a si própria, a dúvida não se faz de momentos, sendo antes uma constante de todo o processo de mudança. Dada a necessidade de certezas para agir, e à presença de dúvidas constantes, a mudança é lenta e a reacção do indivíduo muitas vezes penosa, uma vez que as certezas que procura serão muitas vezes inatingíveis. O indivíduo acaba por, mais que ser um agente da sua mudança, ser um observador que somente retoma a acção quando a dúvida se torna insustentável e a mudança total e absoluta uma tarefa inadiável.
Tratou-se até aqui da forma como a personalidade interfere na mudança num dado aspecto da vida de um indivíduo. Importa agora equacionar a forma como o indivíduo pode levar a cabo um processo de mudança na sua própria personalidade, antes que se chegue ao ponto fundamental: como pode um indivíduo inserido num processo de mudança, mudar também a sua personalidade face à mudança que enfrenta?
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