Terça-feira, 13 de Fevereiro de 2007
O Referendo e os Comunistas


Bom, que há a dizer sobre o resultado do referendo? O Sim ganhou não foi? Então que quer este gajo dizer ainda?

Apenas algumas coisinhas. Sobre as reacções aos resultados, registe-se o mau perder dos partidários do "Não", capazes de afirmar duas coisas extraordinárias: apelam à não alteração por o referendo não ter sido vinculativo, ao contrário do que disseram no passado, e têm a lata de afirmar que a maioria do povo não quer a mudança da lei, porque entendem que quem não votou quer tudo como está.

Boa interpretação da abstenção, à moda salazarista... Como lembrou a camarada Odete Santos, já na aprovação da Constituição fascista a abstenção contou como votos favoráveis. Vê-se bem, portanto, com quem os meninos do "Não" aprenderam as suas lições...

Além disso, duas coisas não podem deixar de ser ditas:

Primeiro, para os que já se recostam no sofá, a luta não terminou. Mas se considerarmos que mesmo entre os defensores do "Sim", a maioria não saiu do sofá senão para votar, é natural que se estejam já a aconchegar novamente. Mas a luta não terminou, porque o referendo foi apenas uma batalha (desnecessária) numa guerra, e outras batalhas se avizinham, porque há que garantir que a IVG será feita no Serviço Nacional de Saúde, há que garantir que não é travada pelos ditos objectores de consciência, e sobretudo há que garantir que não se dá um passo atrás, porque estejam certos que os hipócritas defensores do "Não", não se vão ficar por aqui...

Segundo, que esta vitória do povo e das mulheres portuguesas, em muito se deve a luta cerrada travada pelo Partido Comunista Português. Isto não pode deixar de ser dito. Quem esteve no terreno, nas ruas, nas feiras, nas fábricas, nas aldeias, como esteve o PCP? Quem esteve em campanha desde as primeiras horas da madrugada, às portas das empresas, quem esteve à chuva na rua a informar o povo, como esteve o PCP?

Ninguém. Estiveram recostados no sofá ou em debates inúteis, ou em iniciativas às 17 horas.

Nem movimentos, nem partidos, ninguém lutou nesta batalha como lutaram os comunistas. Foram os movimentos? Foi o PS, que se limitou a debates, a avultadas masturbações intelectuais? Não. Foi o PCP, que de manhã à noite esteve na rua, foram os seus militantes que, como sempre, abnegadamente deram o melhor de si para o progresso do nosso país.

E tal reflecte-se logo à partida numa análise fria dos resultados. Veja-se onde o "Sim" ganhou por maior margem, e concluir-se-á que foi nas regiões de maior influência comunista. Veja-se onde ganhou o "Não", e igualmente se verificará que foi onde as forças reaccionárias prevalecem.

Doa a quem doer, chamem-me oportunista, acusem-me de retirar proveitos partidários... Sei bem o que custou a tantos e tantos camaradas esta campanha, para as suas vidas, entregarem-se a esta luta como mais ninguém se entregou. Dá-me agora um certo nojo que alguns falem do empenho de PS, BE e movimentis afins, ou que por outro lado se enalteça a maturidade do povo português, e se silencie o trabalho dedicado de quem mais trabalhou por este resultado.

Mas se me dá nojo, também me passa ao lado. Porque não podia ser de outra maneira, ia-se lá agora falar no trabalho dos comunistas... Não o esperamos, e também não é por isso que lutamos; pouco nos interessa o reconhecimento e a autopromoção, interessa-nos sim lutar pelo que acreditamos.

Luto porque sonho, porque acredito, porque tenho ideais. Porque cada vez que de tal me esqueço, a vida vem-me lembrar que os meus sonhos e a minha luta são, em última análise, tudo o que importa. Porque são as unicas coisas que cá estão sempre, porque graças ao meu Partido não termino em mim mesmo.

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Publicado por Alfredo às 17:15
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Essencialmente, para o que me for apetecendo. Ideias sobre a sociedade, coisas da sociologia, análise de questões políticas... Comentários à actualidade, assuntos pessoais relativizados e quando me apetecer, também dá para chatear alguém.
Sociólogo, 28 anos, residente em Coimbra. Bolseiro de investigação na área do insucesso e abandono escolares no Ensino Superior. Mestrando em "Relações de Trabalho, Desigualdades Sociais e Sindicalismo".
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