É certo que a Constituição da República Portuguesa afirma que o Ensino deve ser tendencialmente gratuito. Até já disse que devia ser gratuito, antes dos partidos da direita estarem suficientemente consolidados para começar as machadadas nas conquistas de Abril, com a primeira revisão constitucional.
E como devia ser tendencialmente gratuito, esse apaixonado pela educação, denominado António Guterres, ex-primeiro-ministro e actualmente com um tacho internacional, como Durão e Sampaio, impingiu que as propinas por si criadas serviriam exclusivamente para melhorias da qualidade de ensino, portanto não seriam um pagamento da frequência do mesmo.
Uma breve nota: aparentemente, é moda saltar para tachos internacionais depois de dar cabo das questões nacionais. Poderia parecer estranho por que alguém os seleccionaria, mas na verdade diz muito dos lugares que ocupam. E também do que para lá vão fazer. Se à escala nacional fazem o povo em merda, à internacional devem limpar o rabinho aos seus senhores. A questão mesmo, agora, é: para onde irá Sócrates?
É dificil compreender como é que alguém acreditou na patranha das propinas para aumentar a qualidade. Ainda mais quem estudasse no referido grau de ensino. Mas como se diz, o pior cego é o que não quer ver, e há sempre alguém que não o quer.
Bom, Durão decidiu que eram necessários aumentos de propinas, claro está para aumentar mais ainda a qualidade. E o Tribunal Constitucional, uma vez que até é muito isento do PS e do PSD, achou que tal em nada contrariaria o "tendencialmente gratuito". Assim algo do género: "tendencial é tendencial, não quer dizer que tem de ser sempre a baixar"... Portanto, pasme-se, decidiu que poderiam aumentar até ao valor mais elevado que já atingiram, desde que não o ultrapassassem! Ou seja, até ao valor dos tempos da ditadura, que deve ser para voltarmos aos índices de analfabetismo e desqualificação da época.
Só mesmo com muita alienação não se perceberá que os aumentos de propinas, nunca para mais serviram que para financiar o sistema de ensino superior, já que os seus aumentos foram sempre acompanhados de correspondentes cortes no financiamento deste por via do orçamento de Estado.
E o alucinante Gago, que se não tem como paixão a educação poderia ter a ciência, e tanto fala na investigação científica, seguindo o seu mestre mais o discurso do choque tecnológico, tal como Guterres e Durão, tudo o que consegue é falar.
Vem isto a propósito desta notícia.
Se supostamente não há falta de financiamento na educação, porque se vê uma universidade obrigada a canalizar verbas da investigação, para cumprir com obrigações decorrentes dos justos direitos dos seus trabalhadores, leia-se, subsídios de férias?
Gágá, de resto, já afirmou que a UA não leva mais um testão, porque já trabalha para empresas. E assim, confirma o que qualquer um com dois dedos de testa sempre disse sobre as relações entre universidades e empresas: não servem para aumentar as saídas profissionais, não servem para modernizar as empresas, mas para cortar ainda mais no financiamento público do ensino superior.
Não era a investigação que ia lançar a economia portuguesa?
Não era a educação?
Pelos vistos, não deve ser nenhuma das duas, já que, pelos vistos, uma leva machadadas para pagar as machadadas que a outra já levou.
A miséria continua, a luta continuará também.