Já todos estaremos, imagino, habituados ao insuportável estilo oratório do nosso excelentíssimo Presidente, Cavaco Silva.
Também estaremos, por força da razão, habituados ao seu autismo. Cavaco Silva nunca vê nada, nunca ouve nada, nunca diz nada. Nada que interesse, entenda-se. Portanto, sobre a situação do país, para além dos seus devaneios vazios de conteúdo.
Instado a comentar a situação no sector dos transportes, nomeadamente as paralizações e alguns conflitos que têm ocorrido, Cavaco é peremptório:
Portanto, se o autismo estava confirmado, confirmam-se agora também as suspeições quanto ao seu salazarismo, sugeridas pela sua página na internet.
A Presidência da República da Parvónia Portuguesa, encarregou-se, porventura emocionada com as reportagens sobre a vida pessoal dos nossos excelentíssimos Sócrates e Menezes (essas tenho resistido a comentar, não me tendo sido até hoje possível descer áquele nível), de apresentar também, na sua página, "Os Dias do Presidente".
Vale a pena ver. Para rir, ou também para chorar.
Aquelas imagens a preto e branco, o elevator-jazz, a lenga-lenga, aquela simbiose deliciosamente abjecta dum Humphrey Bogart com um saudoso Oliveira Salazar...
Possivelmente, mesmo, para chorar de tanto rir, ou também rir depois de muito chorar.
Serei o único a considerar aquela pequena obra de arte, como algo profundamente surreal, absurdo, patético, simplesmente idiota ou, quiçá, puramente estúpido?
Duvido.
Por outro lado, se é surreal, absurdo, patético, simplesmente idiota ou, quiçá, puramente estúpido, se há coisa que não é, é inocente.
Não é inocente, nas imagens e afirmações profundamente demagógicas e hipócritas: na verborreia do "prédio velhinho", nas diatribes do "pequeno mas confortável escritório", no palavreado dos "longos dias de trabalho". Palavras tão belas quanto demagógicas, com as quais sem dúvida grande parte do povo se identificará, nelas se (mal) encapotando objectivos ideológicos muito específicos.
Digno de nota, porventura algo inocente, mas bem revelador de uma ideia ou simplesmente de um carácter, são os aspectos perfeitamente salazarentos que trespassam a peça. Desde as permanentes alusões à Família, antes, durante e depois da jorna do "longo dia de trabalho", às imagens simplesmente indescritíveis, dignas do tempo Do Outro, absolutamente salazarentos, do amigo Aníbal rodeado de jovens Ratas no Colégio Militar. Tão lindo, tão fascizante...
Assim vai Portugal a Parvónia.
PS: A Primeira Dama também tem uma página, alojada na da Presidência da República. Os Dias do Presidente são péssimos. Os da sua senhora, então, devem ser uma loucura.
PPS: Alguém a elegeu?