Há uns poucos dias, ficámos a saber que para (mais) um dos nossos doutos governantes, os desempregados são pessoas lixo pouco importante.
Afirma o excelentíssimo Mariano Gago Gágá (aliás, vê-se bem na expressividade, que se a demência não chegou, não ha-de tardar) que "quase não há desemprego entre licenciados".
Clamar publicamente tal barbaridade, desconsiderando (ou insultando, talvez seja mais correcto) os quase 10% de licenciados no desemprego, correspondendo a cerca de 63000 portugueses, já é vergonhoso.
Será que quando o Público afirma que "o ministro (...) está convencido de que quase não há licenciados desempregados em Portugal", literalmente descreve uma postura de auto-convencimento de um ministro, que papagueia sem conhecer ao que se refere? Não conhecerá Gago, os dados do Instituto Nacional de Estatística?
Duvido. Sabe bem, como os demais papalvos de São Bento. Opta por não dizer o que bem sabe, como o sabe qualquer português que pense no assunto por alguns nanosegundos.
Deste modo, se já era perfeitamente inaceitável considerar que 63000 pessoas são coisa pouca, o pobre idiota ainda procura, como é de resto habitual nos seus colegas de (des)governo, ofuscar o que os dados (porquê) não revelam de imediato.
Afirma o espécime que, "ao fim de um ano de saída do ensino superior, não existe ninguém desempregado".
O que, lamentavelmente, se esquece de afirmar, é quantos dos 63000 estão desempregados há mais de um ano. Nenhum? Sabe-o? Ou está apenas convencido?
O que, também lamentavelmente, se esquece de afirmar, é os sectores em que encontram emprego. São qualificados? São na área da licenciatura? Todos? Sabe-o? Ou está apenas convencido?
O que, uma vez mais lamentavelmente, se esquece de afirmar, é quantos destes licenciados ex-desempregados deixaram de o ser, porque emigraram para um país onde fossem reconhecidos e tivessem oportunidades. Nenhum? Sabe-o? Ou está apenas convencido?
Como os seus colegas, Mariano Gago é um incompetente. E sei-o de facto; não estou apenas convencido.
A Presidência da República da Parvónia Portuguesa, encarregou-se, porventura emocionada com as reportagens sobre a vida pessoal dos nossos excelentíssimos Sócrates e Menezes (essas tenho resistido a comentar, não me tendo sido até hoje possível descer áquele nível), de apresentar também, na sua página, "Os Dias do Presidente".
Vale a pena ver. Para rir, ou também para chorar.
Aquelas imagens a preto e branco, o elevator-jazz, a lenga-lenga, aquela simbiose deliciosamente abjecta dum Humphrey Bogart com um saudoso Oliveira Salazar...
Possivelmente, mesmo, para chorar de tanto rir, ou também rir depois de muito chorar.
Serei o único a considerar aquela pequena obra de arte, como algo profundamente surreal, absurdo, patético, simplesmente idiota ou, quiçá, puramente estúpido?
Duvido.
Por outro lado, se é surreal, absurdo, patético, simplesmente idiota ou, quiçá, puramente estúpido, se há coisa que não é, é inocente.
Não é inocente, nas imagens e afirmações profundamente demagógicas e hipócritas: na verborreia do "prédio velhinho", nas diatribes do "pequeno mas confortável escritório", no palavreado dos "longos dias de trabalho". Palavras tão belas quanto demagógicas, com as quais sem dúvida grande parte do povo se identificará, nelas se (mal) encapotando objectivos ideológicos muito específicos.
Digno de nota, porventura algo inocente, mas bem revelador de uma ideia ou simplesmente de um carácter, são os aspectos perfeitamente salazarentos que trespassam a peça. Desde as permanentes alusões à Família, antes, durante e depois da jorna do "longo dia de trabalho", às imagens simplesmente indescritíveis, dignas do tempo Do Outro, absolutamente salazarentos, do amigo Aníbal rodeado de jovens Ratas no Colégio Militar. Tão lindo, tão fascizante...
Assim vai Portugal a Parvónia.
PS: A Primeira Dama também tem uma página, alojada na da Presidência da República. Os Dias do Presidente são péssimos. Os da sua senhora, então, devem ser uma loucura.
PPS: Alguém a elegeu?
Por vezes leio notícias que, tivesse eu alma, a deixariam absolutamente parva.
Há sociólogos que consideram a sociedade fundada no trabalho, ultrapassada. Beck, por exemplo, fala-nos na sociedade do risco, Giddens na modernidade tardia, Castel na sociedade da informação, há quem fale na sociedade do consumo, outros ainda na sociedade do lazer (esta é a melhor de todas, sobretudo para quem trabalha todos os dias, mas também não é nova, há muito existindo para a burguesia...).
Se eu fosse um sociólogo minimamente decente, exporia agora porque entendo que continuamos a viver numa sociedade alicerçada no trabalho. No entanto, como sou um sociólogo, na melhor das hipóteses, simplesmente medíocre, considerarei antes que vivemos na...na.........na..............
Sociedade-da-parvoeira-fanática-da-saúde-pública!
Já não bastava proibirem o tabaco em todo o lado, para bem da saúde de todos, porque o meu fumo não deve ser respirado por quem não o deseja. Apesar de eu ter de engolir o fumo dos automóveis dos outros, quando não conduzo, ou de ter o meu meio ambiente poluído por fábricas, cujos produtos não consumo. De resto, a poluição gerada pela fome lucrativa da burguesia industrial, não nos deve preocupar. Face ao egoísmo criminoso dos estuporados dos fumadores, que todos certamente já viram enfiar cigarros (ao contrário) na boca de criancinhas, as alterações climáticas, a produção industrial, a destruição de ecossistemas, são um problema menor. O que é preciso é acabar com as desnaturadas chaminés humanas.
A bem da saúde pública, claro está.
Também não bastava regulamentar todo o produto alimentar e mais algum, por um lado descaracterizando a nossa (riquíssima) cultura gastronómica, por outro (aliás, o fundamental) arrasando a pequena produção, a velhota que fazia o rissolito da tasca da esquina, a feira popular da aldeia e o bailarico lá da terrinha. Porque nenhum destes detém os meios económicos para fazer face a todas as exigências, a sempre vigilante ASAE lá porá a produção alimentar na mão do grande capital.
A bem da saúde pública, claro está.
Também não bastava (pretender) legislar o gosto e a estética. Porque isso de andar a enfiar metal nas trombas, no pirilau ou na piriquita não cabe na cabeça de ninguém. Ou andar a enfiar tinta debaixo da pele! Obviamente que é preciso estar louco para achar isso bonito, estético, ou coisa que o valha. A unica coisa que é bonito enfiar no corpo, é o menino do menino na menina da menina, com preservativo reconhecido pela ASAE, a bem da saúde púb(l)ica. Portanto, a bem do bom gosto, que se proíbam então as tatuagens e os piercings (fico à espera das rastas). Toca a baixar as calcinhas e a mostrar a genitália ao senhor inspector.
A bem da saúde pública, claro está.
Como nada disto bastava, afinal o que é mesmo bom, portanto aceitável, porque não prejudica a saúde pública, alias de ninguém, ao contrário do pastel de bacalhau, e é de muito bom gosto, ao contrário do piercing, é fumar a bela da ervinha. Desde que sem tabaco. Com tabaco já não pode ser, a erva é perfeitamente aceitável, com tabaco é que não, que prejudica a saúde pública. Supõe-se a ASAE a abrir os charrinhos à malta fixe, oferecendo depois uma mortalha novinha em folha como compensação, caso fosse purinha, sem um só pedacinho de tabaco.
Antes a alienação que o catarro.
A bem da saúde pública, claro está.