Sexta-feira, 16 de Fevereiro de 2007
Quando...

... é que o Mundo se livra desta bestunça? E dos amigos dele? E dos amigos dos amigos dele? E dos amigos dos amigos dos amigos dele? E dos amigos dos amigos dos amigos dos amigos dele? E dos...



Publicado por Alfredo às 21:58
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Terça-feira, 13 de Fevereiro de 2007
O Referendo e os Comunistas


Bom, que há a dizer sobre o resultado do referendo? O Sim ganhou não foi? Então que quer este gajo dizer ainda?

Apenas algumas coisinhas. Sobre as reacções aos resultados, registe-se o mau perder dos partidários do "Não", capazes de afirmar duas coisas extraordinárias: apelam à não alteração por o referendo não ter sido vinculativo, ao contrário do que disseram no passado, e têm a lata de afirmar que a maioria do povo não quer a mudança da lei, porque entendem que quem não votou quer tudo como está.

Boa interpretação da abstenção, à moda salazarista... Como lembrou a camarada Odete Santos, já na aprovação da Constituição fascista a abstenção contou como votos favoráveis. Vê-se bem, portanto, com quem os meninos do "Não" aprenderam as suas lições...

Além disso, duas coisas não podem deixar de ser ditas:

Primeiro, para os que já se recostam no sofá, a luta não terminou. Mas se considerarmos que mesmo entre os defensores do "Sim", a maioria não saiu do sofá senão para votar, é natural que se estejam já a aconchegar novamente. Mas a luta não terminou, porque o referendo foi apenas uma batalha (desnecessária) numa guerra, e outras batalhas se avizinham, porque há que garantir que a IVG será feita no Serviço Nacional de Saúde, há que garantir que não é travada pelos ditos objectores de consciência, e sobretudo há que garantir que não se dá um passo atrás, porque estejam certos que os hipócritas defensores do "Não", não se vão ficar por aqui...

Segundo, que esta vitória do povo e das mulheres portuguesas, em muito se deve a luta cerrada travada pelo Partido Comunista Português. Isto não pode deixar de ser dito. Quem esteve no terreno, nas ruas, nas feiras, nas fábricas, nas aldeias, como esteve o PCP? Quem esteve em campanha desde as primeiras horas da madrugada, às portas das empresas, quem esteve à chuva na rua a informar o povo, como esteve o PCP?

Ninguém. Estiveram recostados no sofá ou em debates inúteis, ou em iniciativas às 17 horas.

Nem movimentos, nem partidos, ninguém lutou nesta batalha como lutaram os comunistas. Foram os movimentos? Foi o PS, que se limitou a debates, a avultadas masturbações intelectuais? Não. Foi o PCP, que de manhã à noite esteve na rua, foram os seus militantes que, como sempre, abnegadamente deram o melhor de si para o progresso do nosso país.

E tal reflecte-se logo à partida numa análise fria dos resultados. Veja-se onde o "Sim" ganhou por maior margem, e concluir-se-á que foi nas regiões de maior influência comunista. Veja-se onde ganhou o "Não", e igualmente se verificará que foi onde as forças reaccionárias prevalecem.

Doa a quem doer, chamem-me oportunista, acusem-me de retirar proveitos partidários... Sei bem o que custou a tantos e tantos camaradas esta campanha, para as suas vidas, entregarem-se a esta luta como mais ninguém se entregou. Dá-me agora um certo nojo que alguns falem do empenho de PS, BE e movimentis afins, ou que por outro lado se enalteça a maturidade do povo português, e se silencie o trabalho dedicado de quem mais trabalhou por este resultado.

Mas se me dá nojo, também me passa ao lado. Porque não podia ser de outra maneira, ia-se lá agora falar no trabalho dos comunistas... Não o esperamos, e também não é por isso que lutamos; pouco nos interessa o reconhecimento e a autopromoção, interessa-nos sim lutar pelo que acreditamos.

Luto porque sonho, porque acredito, porque tenho ideais. Porque cada vez que de tal me esqueço, a vida vem-me lembrar que os meus sonhos e a minha luta são, em última análise, tudo o que importa. Porque são as unicas coisas que cá estão sempre, porque graças ao meu Partido não termino em mim mesmo.

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Publicado por Alfredo às 17:15
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Segunda-feira, 12 de Fevereiro de 2007
A afectividade e o lado animal do ser humano: que relação?

 

Respondendo ao desafio colocado em forma de comentário no anterior artigo, desafio esse que sugeria equacionar a biologia como factor influente nas relações afectivas, devo dizer que... Discordo totalmente, embora com dúvidas. Portanto aceitam-se pedidos de esclarecimento e esclarecimentos... Enquanto sociólogo, fujo geralmente ao social-biologismo, que tanto já perverteu a sociologia no passado.

Parece-me que, quando falamos em relações afectivas, se sai totalmente do campo da biologia. Ainda assim, é obvio que pouca sei dessa área, portanto teria sido bom se tivesse sido deixada a opinião mais aprofundada, e não somente o desafio.

Se olhar os seres humanos como animais, tal como foi sugerido, vejo somente o instinto de sobrevivência: por um lado a auto-conservação, por outro a reprodução.

E nas relações afectivas não vejo nada disso. Porventura poderíamos equacionar estritamente a sexualidade como a manisfestação do instinto reprodutivo, mas mesmo disso duvido: hoje parece-me que a sexualidade tem inequivocamente um lado biológico, mas sem duvida igualmente uma determinação/condicionamento social.

Se víssemos na sexualidade somente o imperativo biológico, então a nossa escolha de parceiro sexual teria de ser aquele que biologicamente seria o mais apto parceiro para a reprodução (naturalmente, suponho que tal escolha será sobretudo inconsciente). Veríamos portanto a sexualidade humana como a manifestação consciente de um impulso inconsciente; mas se o impulso leva um animal a escolher o parceiro fisicamente mais adequado para a reprodução, na sexualidade humana tal não se dá.

Na sexualidade humana a escolha é primariamente social. Escolhemos para (potencial) parceiro não com base em critérios biológicos, embora a atração sexual seja obviamente fisica (parece-me perceptível a diferença), mas sim sociais. Penso que quando avaliamos a alguém do sexo oposto, não nos limitamos a observar o lado físico, mas igualmente o social. Além do físico ser dissimulável, observamos como a pessoa manifesta a sua identidade no espaço social: ou seja, como se veste, como fala, como se relaciona com outros, se parece alegre ou extrovertida, se parece inteligente, etc.

Assim, embora seja forçoso que nos agrade fisicamente, escolhemos igualmente com base em critérios de ordem social, basicamente escolhemos alguém que nos agrade fisicamente mas também com quem vislumbremos alguma identificação social (que não deve ser entendido como "alguém igual a nós", até pode ser por oposição). A própria atracção física é socialmente condicionada, porque o alvo dessa atracção é culturalmente filtrado: em diferentes culturas o ideal de beleza e sexualidade pode divergir muito.

Portanto, até na sexualidade, que admito advir do imperativo biológico da reprodução, a escolha de parceiro já não obedece exclusivamente ao critério biológico da aptidão para a perpetuação dos genes e sua melhoria por meio do cruzamento com um bom parceiro, mas a uma selecção social.
E não temos consciência do que é um bom parceiro, embora instintivamente possamos ter alguma noção, com as feromonas e outras coisas que me escapam ao conhecimento. Se a minha escolha de parceira sexual obedece-se ao imperativo biológico, não poderia sentir-me atraído por uma mulher que bebesse muito, ou fumasse muito, ou tivesse qualquer tipo de problema físico... porque o detectaria pelo cheiro...

Mas a questão que venho discutindo vai muito além da sexualidade, até à afectividade. E aí a porca torce o rabo, porque não me parece haver qualquer influência biológica, embora a sexualidade antes analisada também desempenhe um papel na afectividade...

Mas a afectividade vai muito para além da sexualidade, como de resto é patente nos artigos anteriores. Sentir afecto é ver em alguém aquilo que nos completa, e uma vez que somos individuos socializados, o que sentimos que nos falta será sempre de cariz psicossocial. Portanto, se gosto de alguém, é porque me identifico socialmente e psicologicamente com essa pessoa, e isto nada tem de biológico. É sim o vislumbre de uma existência psicossocial mais completa, de conseguir o que sinto faltar, de dar o que sinto faltar ao outro: poderíamos dizer que se trata de sobrevivência, portanto instinto biológico, mas esta forma de sobrevivência nada tem a ver com a subsistência animal, portanto tal não se adequa.

De resto, se os animais se unem para a sobrevivência, a afectividade nos seres humanos pode até ir em sentido oposto. Não sabemos todos que as nossas afectividades tantas vezes nos fazem mais mal que bem?... (ainda assim, porque um jantar me deu uma intoxicação alimentar, não vou deixar de comer não é...)

E as próprias formas de união afectiva demonstram o seu carácter social. Assim, enquanto que em qualquer espécie animal (corrijam-me se estiver errado) a uma forma primária e dominante de união, primeiro esta é de carácter de sobrevivência biológica enquanto que a união humana é de carácter social ainda que remeta para uma certa forma de sobrevivência, segundo a união humana pode assumir diversas formas.

E essas formas variam precisamente ao longo do tempo e espaço social, de sociedade para sociedade, de cultura para cultura. Se nas sociedades ocidentais predomina a monogamia e a noção de fidelidade ao companheiro, outras há em que predomina a poligamia. E em outros tempos, igualmente sociedades houve em que a regra era a poliandria. É também interessante notar que a fidelidade surge associada às sociedades polígamas e depois monógamas patriarcais, não existindo anteriormente nas sociedades poliandricas matriarcais.

Conclui-se, portanto, que a forma como homens e mulheres se unem varia com os traços culturais de cada sociedade, portanto é uma união socialmente determinada. Por outro lado, mesmo nas espécies animais, como os lobos, em que dois elementos se unem para toda a vida, tal deve-se à necessidade de sobrevivência biológica: se observar-mos diferentes alcateias ainda assim a união será em moldes iguais ou semelhantes.

De tudo isto espero poder-se concluir que as relações afectivas entre as pessoas duma sociedade são inequivocamente de carácter psicossocial, e que os factores biológicos em muito pouco influenciam. Quando muito, como visto, na sexualidade: mas ainda assim apenas no impulso sexual, e já não no objecto de atracção, que já é socialmente filtrado. Tudo o mais que tem a ver com afecto é de ordem social, porque o amor não é uma forma de nos completarmos biologicamente através de outro ser, mas sim uma forma de completarmos a nossa identidade por meio da troca de sentimentos com outro ser social.

foto: http://static.flickr.com/5/10193854_ae8087589f.jpg



Quinta-feira, 8 de Fevereiro de 2007
Quando nos enamoramos?

Bom, nesta grande odisseia que é a construção de uma teoria sociológica do amor, ou se preferirem das relações amorosas, deixo aqui mais um artigo para reflexão. Aproveito para lembrar que este é já o segundo texto nesta saga, e que quem o desejar pode consultar o primeiro (relativo à conceptualização do amor enquanto relação social) nos arquivos de Novembro.

Aproveito para dizer que, como qualquer ideia, o valor das opiniões que se seguem será naturalmente enriquecido se fôr alvo de discussão, portanto agradeço quaisquer opiniões que desejem aqui deixar.

Para começar, e ao contrário do texto anterior, o que se segue não é da minha autoria mas sim do sociólogo italiano Francesco Alberoni. Este é um dos poucos autores que se tem dedicado a contrariar as habituais convenções, assim questionando esse fenómeno que a ninguém deixa indiferente, o amor. Tem-no feito do ponto de vista sociológico, e como procuro fazer o mesmo parece-me lógico que leia o que outros escrevem sobre o assunto: são portanto as suas considerações que deixo para vossa apreciação, complementadas com algumas notas minhas.

"Quando nos enamoramos?" é o título do segundo sub-capítulo do segundo capítulo da obra "Amo-te" de Alberoni. Antes de passar às transcrições, importa desde já lembrar que para o autor o enamoramento não é o mesmo que a paixão, pelo que estar apaixonado não corresponderá exactamente a estar enamorado. No entanto a distinção não é muito clara, mas por agora bastará que consideremos o enamoramento como algo mais que a paixão e algo menos que o amor.

Portanto, quando nos enamoramos?

"Enamoramo-nos quando estamos prontos para mudar, quando estamos prontos a deixar uma uma experiência já feita e gasta, e temos o impulso vital para realizar uma nova exploração, para mudar de vida."

"Quando estamos prontos a tirar proveito de capacidades que não tínhamos explorado, a explorar mundos que não tinhamos explorado, a realizar sonhos e desejos a que tínhamos renunciado. Enamoramo-nos quando estamos profundamente insatisfeitos com o presente e temos a energia interior para iniciar outra etapa da nossa existência."


"... o enamoramento acontece apenas quando se acumulou tanta recusa do passado e tanto desejo de vida, tanto impulso vital que torna possível um novo salto em frente, um novo renascimento, com todos os riscos que este comporta."

"Para que se esteja enamorado é preciso sentir um mal-estar com o presente, o lento acumular-se duma tensão, muita energia vital e, por fim, um factor desencadeante, um estímulo adequado."

"Em termos sociológicos dá-se a crise entre o sujeito e a sua comunidade, e depois algo que empurra o sujeito para um novo tipo de vida, até atingir um limiar, um ponto de ruptura, onde se lança na novidade. O verdadeiro enamoramento é precedido por uma crise das relações existentes, pela impressão de ter errado, por uma impressão de irrealidade, de falta de autenticidade. E, ao mesmo tempo, pela grande saudade duma vida mais verdadeira, mais intensa, mais real."

"De tudo o que dissemos conclui-se um corolário fundamental: quando uma pessoa muda [ou sente necessidade de mudar], se transforma [ou disso sente necessidade], tem experiências profundamente novas [ou deseja tê-las], acaba por se encontrar na condição de se poder enamorar outra vez."

Bom, das transcrições aqui apresentadas, e por comparação com o meu primeiro ensaio sobre o tema, alguns aspectos parecem-me relevantes:

  • Primeiro, Alberoni descreve na positiva o que eu antes descrevi na negativa; o autor foca o que leva alguém a enamorar-se e que condições o propiciam, enquanto que eu foquei o que leva o enamoramento a desvanecer-se, o amor a findar; fruto das circunstâncias, parece-me, talvez hoje eu escrevesse um primeiro ensaio diferente...
  • Em segundo lugar, parece-me que apesar das diferenças de estilo a substância é essencialmente a mesma. Isto porque quando o autor salienta repetidamente o factor mudança, parece-me estar a referir precisamente o que eu antes descrevi como o contexto e a sua alteração.
  • Assim, Alberoni entende que o indivíduo se pode enamorar quando está em mudança ou dela sente necessidade, portanto quando o contexto em que se insere está a mudar ou o indivíduo o pretende. Por outro lado, eu referi que o enamoramento termina quando o contexto se altera e o par amoroso não se consegue adaptar ao novo contexto. Portanto, parece-me que falamos do mesmo, com a diferença que o autor descreve a importância do contexto para o enamoramento de um indivíduo, enquanto que eu abordei a importância do contexto para o desenamoramento de dois indivíduos.
Finalmente, parece-me que Alberoni, muito embora pretenda desenvolver uma análise sociológica deste tema, insere-lhe ainda assim um lado psicológico que eu não abordei. Isto porque embora refira "a crise entre o sujeito e a sua comunidade" e "crise das relações existentes", igualmente foca com relevância que "estamos profundamente insatisfeitos com o presente", "quando se acumulou tanta recusa do passado e tanto desejo de vida", "impressão de irrealidade, de falta de autenticidade", sendo estes ultimos aspectos eminentemente do foro psicológico.

Portanto, onde eu me restringi à análise do contexto puramente social, Alberoni embora igualmente o aborde, analisa também o papel das transformações no contexto psicológico do indivíduo. Bom, parece-me que na ansiedade de abordar sociologicamente este tema, procurando retirá-lo da exclusividade da psicologia, tenha negligenciado que esta área do saber tem ainda assim um papel relevante nesta temática. Porventura a chave da questão estará na adequada combinação da análise dos factores sociais e psicológicos, já que estes provavelmente se influenciam mutuamente.

Talvez a questão não seja então a busca de uma teoria sociológica das relações amorosas, mas de uma teoria psicossociológica... Que vos parece?

foto:
www.diegomanuel.com.ar/amor/amor1/webs/love-2.htm





Essencialmente, para o que me for apetecendo. Ideias sobre a sociedade, coisas da sociologia, análise de questões políticas... Comentários à actualidade, assuntos pessoais relativizados e quando me apetecer, também dá para chatear alguém.
Sociólogo, 28 anos, residente em Coimbra. Bolseiro de investigação na área do insucesso e abandono escolares no Ensino Superior. Mestrando em "Relações de Trabalho, Desigualdades Sociais e Sindicalismo".
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